sábado, 18 de julho de 2009

Primeiro passeio da turma do curso de especialização em Educação Ambiental - PUC Rio

"Ecolimites"... Apartação, divisão, contenção ou segregação?


Antes de abordar o problema dos “Ecolimites” impostos nas comunidades do Rio de Janeiro, precisamos abordar um tema mais antigo que antecede essa questão, o problema da ocupação desordenada nas encostas.
A cidade do Rio de Janeiro é composta por muitos vales, e, consequentemente, por montanhas, e isso propiciou a ocupação da população pobre nas encostas dessas montanhas, pois essa grande parte da população composta por escravos “libertos” que não possuíam moradia, e composta também por uma população oriunda de outros estados, principalmente do Nordeste, que veio a procura de melhores condições de sobrevivência, formando assim uma população marginalizada.
Essa população marginalizada, não tendo condições de moradia, passou a ocupar desordenadamente encostas do Rio de Janeiro.
Essa ocupação se deu durante anos, e isso foi aos poucos afetando o meio ambiente de diferentes formas. Uma delas é o desmatamento, causado pela derrubada de árvores, degradação e retirada da vegetação arbustiva e rasteira, para fixação de moradias, a erosão do solo causada por corte do morro de forma desordenada provocando desmoronamentos, o abate e desalojamento da fauna nativa, a introdução de flora exótica, entre outros.
Devido à má distribuição de renda, ao deficit de moradia, às altas taxas de desemprego, somado às facilidades de construir ou adquirir um imóvel nas comunidades, essa ocupação desordenada acontece até hoje, agravando cada vez mais os problemas ambientais citados acima.
Com esse “pretexto” o governo do Rio de Janeiro criou um projeto destinado à conter essa ocupação que vem crescendo cada vez mais, chamado de “Ecolimites.” Os “Ecolimites”, a princípio, eram muros de 3 metros de altura que “cercavam” as comunidades para que estas não invadissem mais o espaço de mata nativa que ainda resta. Mas, houve uma série de pessoas que foram contra, acreditando ser a questão ambiental, uma desculpa para marginalizar ainda mais os pobres, moradores das comunidades, separando-os da cidade, da “civilização”. O projeto foi revisto e os muros de 3 metros foram então, trocados por muros de 1 metro, “caminhos ecológicos” e parques.
Alguns dos que foram contra mudaram de idéia com a revisão do projeto, dizendo ser este sim, um projeto humanitário, outras pessoas, muitas moradoras da comunidade, afirmaram que qualquer projeto voltado para as comunidades é bem vindo, tendo em vista que são sempre esquecidas pelo governo. Ainda tiveram opiniões que não mudaram, pois defendem que a idéia do muro não foi separar comunidade e natureza, e sim, cidade e comunidade, “ricos” e pobres, excluindo o máximo possível os pobres e “favelados” da civilização.
E podemos perceber que há contradição no projeto, eles alegam que os “Ecolimites” estão sendo feitos nas comunidades se expandem mais rapidamente, mas as escolhidas não são as que se expandem mais rapidamente, e sim, são as mais próximas dos bairros de maior poder aquisitivo, os bairros da zona sul do Rio de Janeiro.
Acredito que um projeto que vai nos custar 40 milhões poderia pensar um pouco mais no bem-estar do ser humano. Claro que devemos pensar no meio ambiente e nos ecossistemas, pois o equilíbrio destes que garantem uma vida digna e saudável na Terra. Mas não podemos nunca desvincular o ambiental do social, pois os seres humanos também fazem parte do meio ambiente e dos ecossistemas que o compõe.
Criar muros não é a melhor solução, é apenas uma medida paliativa que não vai durar muito tempo. A solução é trabalhosa, à longo prazo e só interessa ao meio ambiente e aos prejudicados com a desigualdade social. Não interessa aos “poderosos” deste país, nem aos “poderosos” de nenhuma parte do mundo. Por enquanto...