terça-feira, 11 de maio de 2010

O sentido da palavra “cuidar” na sociedade capitalista


Vemos hoje uma distorção do sentido da palavra “cuidar”.

O conceito de cuidado está totalmente ligado ao cuidado do corpo em todos os seus aspectos; de cuidado com a saúde física, cuidado com a aparência, no caso dos adultos, e ligado às necessidades básicas e às necessidades de sobrevivência, quando relacionado à infância.

Será abordado nesse trabalho o sentido da palavra “cuidar” no que tange à infância, o conceito interpretado pela sociedade capitalista e as terceirizações de papéis inerentes às famílias.

Tanto nas creches, quanto nas famílias, quando escutamos que a criança está sendo “cuidada” pensamos imediatamente que tem alguém a observando, evitando que a mesma se machuque e/ou atendendo suas necessidades básicas como higiene e alimentação.

Nas famílias, está cada vez mais evidente a omissão de pais e mães de seus papéis, e a terceirização destes papéis à babás, empregadas domésticas e profissionais de creches e escolas. O vínculo afetivo vem sendo enfraquecido, e até quebrado, entre pais e filhos. E, devido à necessidade de intimidade e contato que as crianças possuem, até pela formação de sua subjetividade, transferem a afetividade para pessoas mais próximas, mais presentes.

Por sua vez, essas pessoas que ocupam os papéis negligenciados pelos pais e familiares, também não estão preparadas e, muitas vezes, constroem com as crianças relações superficiais; pobres de contato físico, de amorosidade e de significância.

Segundo Borges (2009), os vínculos afetivos se tornam descartáveis, não duradouros, parecendo terem perdido sua solidez na sociedade moderna, e os indivíduos, tanto adultos quanto crianças, se fecham em seus espaços individuais, isolados do mundo e sofrendo, tanto psicologicamente quanto espiritualmente, com a solidão recorrente desse isolamento.

Essa solidão é desencadeada pela urgência de proteção e de cuidados, cuidados estes que não só reproduzem os conceitos já apresentados acima, mas também no sentido mais profundo, menos superficial, de cuidado do corpo sim; mas também da mente, tendo em vista que a relação constituída de abandono precipita o crescimento da criança, impactando negativamente em sua estruturação psíquica; e do seu espírito, da sua subjetividade, “o importante é a estruturação de uma intimidade que possa nortear e garantir uma melhor qualidade de vida em sociedade, favorecendo o florescimento de vínculos afetivos” e de vínculos mais substanciais, necessários à construção de uma sociedade mais amável e mais pautada nas relações entre seres vivos, sejam eles humanos ou não. (BORGES, 2009, pg. 3)

Como nos aponta Borges (2009), o ser humano no início de sua vida, durante a infância, precisa de alguém que o humanize; precisa de um “espelho” em que ele possa se guiar, em que ele possa enxergar o seu próprio “eu” em um processo de construção de sua identidade e os pais estão terceirizando cada vez mais essa função devido à uma inversão absurda de valores existente na sociedade vigente.

A sociedade capitalista nos obriga cada vez mais a valorizar o trabalho, para podermos acumular capital, para podermos adquirir bens, ou seja, para que possamos consumir, para, consequentemente, conquistarmos espaço na sociedade. Pois só é visto e considerado pela sociedade quem possui capital acumulado, quem possui bens materiais, que consome toda essa gama de produtos que são disponibilizados diariamente nas prateleiras. Na “sociedade do espetáculo” a ordem é “ter mais para ser mais”, é a inversão de valores citada acima onde as relações sociais não são pautadas mais por afetividade e cooperação, mas sim por competitividade mediada por imagens.

A criança, no meio dessa sociedade, pede por cuidado, necessita de atenção, requer tempo, tempo este que poderia estar sendo gasto em algo mais “produtivo”, algo mais lucrativo, algo que dê maior visibilidade. E assim, essa necessidade que a criança possui do outro é encarada como uma deficiência da infância, como algo que impede sua evolução.

Essa relação acaba se transformando em um ciclo vicioso, porque essa criança, quando adulto, também não vai saber criar vínculos afetivos, também não vai saber educar e criar com amor, seja seu próprio filho, seja qualquer criança, pois ela não sabe como, também não foi criada, cuidada, dessa forma.

Mais uma vez esse adulto vai negligenciar essa necessidade de afetividade da criança, terceirizando seu papel, ou mantendo uma relação superficial, descartável, não significativa com essa criança.

A sociedade precisa se atentar mais a esse conceito de cuidado que não é muito levado em consideração, um cuidado com o corpo, com a mente e com o espírito, o cuidado com o ser em sua totalidade. Um cuidado que vai além do suprimento de necessidades básicas, um cuidado que leve em conta a subjetividade da criança, que a oriente na sua formação como um ser humano que estabelece relações de cuidado consigo, com o outro, com o mundo.

REFERÊNCIAS:

BORGES, Isabel Cristina Bogéa. Um estudo sobre a constituição subjetiva: relações de cuidado entre educadores e bebês. Out/2009.

Um comentário:

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